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«(...) Ao qualificar de "romance autobiográfico" esta sua dupla incursão em terrenos habitualmente separados (o romance e a autobiografia), o autor de "O menino, o homem e o rio" não haverá tido outra preocupação que não fosse a de aproveitar - romanescamente, digamos - a matéria ao seu dispor, isto é, a própria vida, ao longo de sessenta anos do século XX. Caturrando sobre "Le romancier et ses personnages", com a finura luminosa do seu geometrismo intelectual, François Mauriac afirmou, em tempos (precisamente na década em que nascia Manuel Arouca), que os romancistas disfarçados de autobiógrafos, justamente por estarem demasiado obcecados com a própria imagem, tinham dificuldade em observar as pessoas. "C'est lorsque nous commençons à nous déprendre de notre propre coeur que le romancier commence aussi de prendre figure en nous" - rematava o autor de "Thérèse Desquéyroux. Curiosamente, sendo embora um neófito nestas andanças romanescas, Manuel Aurora consegue isso mesmo que Mauriac não encontrava nos jovens romancistas (...): consegue (...) ver a vida projetada no mundo dos outros.(...)» - (excerto do prefácio da obra)